Estou cansado de bater e não se abrir,
de correr e não alcançar,
de pedir e não receber,
de chorar e não ser ouvido

Estou cansado de tentar e não conseguir,
fugir e não escapar,
sonhar e não realizar,
olhar e não saciar

É a vida apenas isso?
Foi pra isso que nos formates no ventre?
O que mais desejo, isso é o que não consigo
E o que mais me satisfaz é o que me falta

Esperei por Ti,
Sim, por Ti esperei todos os anos de minha vida
Como a terra seca aguarda ansiosa pelo tempo da chuva,
eu assim por Ti esperei minha vida inteira

As vitórias que tive,
as vi desaparecerem como se jamais tivessem ocorrido
Melhor não seria nunca as ter alcançado?!
Ter e perder é pior que nunca ter tido?
Sonhar é melhor que viver?

Grato Te sou pelo que vivi
E em Tua misericórdia me abraço
Esperando que me mostres a Tua face,
face amorosa e cuidadora,
para que se levante meu semblante caído
Desejos

Não quero a solução agora, quero
Paciência para esperar
Mansidão para aguardar
E fé para suportar

A noite escura

Em vão imaginei que minhas lágrimas haviam secado
Que já não era mais possível derramar-me em choro
Agora sei que não passou de uma ilusão
Que vazio que sinto!

A minha alma e coração estavam amortecidos
Como que anestesiados de tudo
Ah, como é duro acordar desse torpor
E voltar a sentir!

Voltar a viver, voltar a chorar
(viver é prantear a dor que sinto)
Por vezes chego a preferir o vazio de sentimentos
Que essa dor que me sufoca o peito!

Choro até meus olhos arderem
Sinto de uma só vez sentimentos acumulados por anos
O despero é minha companheira
E com a ansiedade adultero

Procuro-te, mas não te acho
Busco-te, mas estás como quem se esconde
Não vires a tua face para mim
Não me abandones jamais!

Pois para onde iria eu?
Onde acharia as palavras que preciso ouvir,
os caminhos que quero andar?

Não retenhas para sempre a tua mão
Nem peses demasiadamente sobre mim a tua repreensão
Não mais do que o necessário para que eu aprenda
Mas não tanto que me aborreça do teu ensino

Sinto uma dor que me comprime o peito
E um desespero que consome meu espírito
Até quando sofrerei estas coisas?
Não sou eu teu filho, e tu, meu pai?

Não te cales para sempre
Nem tampes teu ouvido à minha voz quando te chamo
Ouve-me, e responde-me
Pois para quem iria eu se é de ti que quero ouvir palavras de descanso?

Por que me desprezas tanto? Que te fiz que mereço? Que te roubei? Porventura te enganei? Ou acaso não me conhecias ainda antes de existir? Não sou eu o resultado de um sonho teu?

Nunca fui desleal contigo, de mim não podes dizer "tornou-se uma tristeza inesperada". Não estão todos os meus dias escritos? E de quem era a mão que os escreveu, senão a tua própria?

Que esperas para socorrer-me? Que ponto de desalento preciso alcançar para que te mostres a mim? Não conheces minha alma mais do que eu mesmo, não te estão todas as coisas descobertas e teus olhos em todo o lugar?

Uma só palavra tua e minha miséria seria como bruma dissipada. Mas o que queres de mim, ainda que soubesse o que era, não o poderia te dar, pois nada tenho para te oferecer. Por que, então, continuas aguardando como se de mim precisasses de algo?

Sonhos tolos me restam, desejos que desaparecem como fumaça. Cada vez que meu íntimo se contorce numa esperança, a indiferença da realidade me assoma. Nenhuma vontade, nenhum querer vê a luz do dia, mas não sem antes fazer minha alma arder como nova, apenas para restarem as cinzas espalhadas.

Estou cansado. Estou cansado. Estou cansado. Até quando?